terça-feira, dezembro 02, 2014

Forelsket

Duas histórias assíncronas que se cruzam na luz ténue de fim de dia.

Ela ajeita nervosamente a cabelo. Sabe de antemão o peso que as cores de outono têm sobre si e não quer causar má impressão. Conhece também de sobejo o que espera encontrar naquela estação: um verão vermelho em forma de romã.

Ele passa disperso na roda-viva do dia. Acha que tudo se compõe quando o frio congelar a razão. Dança sozinho ao recordar-se dos tempos felizes que hão de vir. No olhar cabe a imensidão do horizonte e no gesto leva uma ternura que se revela na perfeição com que pousa a mochila na casa onde quer ficar.

Descobrem-se na livraria que cruza a esquina. Naquela onde os livros são vidas, e as vidas não passam de histórias por contar. Ao longe, palavras novas cruzam-se em continentes frios.  Golfadas de vento aproximam-nos num espaço etéreo. Tocam-se na frieza incólume de um icebergue e com uma destreza extemporânea sabem que querem ficar ali.


segunda-feira, novembro 10, 2014

Breakup songs

Encostada à soleira da porta, a sua decisão dependia do índice de pluviosidade.
Quando parou de chover, quis ficar em casa. O sol brilhava mais ali.


6. Scott Walker | If you go away


5.Porta dos fundos | Essa é pra você


4. The Beatles | You´re gonna lose that girl



3. Françoise Hardy | Comment te dire adieu?



2. The Magnetic Fields | All my little words



1. Jeff Buckley | Lover, you´ve should come over


quarta-feira, setembro 03, 2014

Férias 2014


Montenegro, Croatia and Serbia in 2 weeks



Podgorica

Podgorica

Budva
Budva

Budva

Budva
Dubrovnik
Dubrovnik
Dubrovnik

Dubrovnik

Kotor
Kotor
Kotor
Kotor
Kotor

Belgrade

Belgrade



segunda-feira, junho 30, 2014

segunda-feira, maio 12, 2014

Esqueci-te

Haverá o dia em que não estarei mais presente. Esqueci-te. Não serás para mim mais que um fragmento da minha vida. 
Um fragmento que não foste capaz de preservar, um fragmento que amarrotaste e atiraste para o lixo. E talvez nesse teu momento de fraqueza em que olhas e não vês, ouves mas não escutas entendas o que não quiseste amar. 
Vais sentir saudades das palavras lindas, mas os meus lábios estarão selados, não pelo ódio, não pela raiva, mas pelos lábios daquela que virá a seguir a ti.

André Rebelo

quarta-feira, março 26, 2014

Entorpecimento

Calcorrear ruas em levamentos de calçada,
lamentos de um trajeto que já não o é.
Num pranto calado envolvo-o em memoriais
de exíguos vazios que mais não fazem que
toldar a razão, aqui e agora.

Palavras doces que embalsamo,
Para não nos esquecer.
Não me esquecer.

O chão destroça-se em pedaços de algodão
prontos a voar quando terminarem
as palavras brandas enfrascadas.

Moleza do ser não combina
com este caminho, nu de pavimento.
De terra batida, descalço, entregue a si próprio.

Cadinhos de imperfeição
quando o vocábulo se solta.
Quero ir com ele, com colarinhos das amarras que me prendem a ti.

[Ou o que ainda há por fazer.]

domingo, março 02, 2014

A Misantropia Tem Hora Marcada

Um suspiro de alívio, não demasiado fugaz, escapa-se assim que entra em casa. Tateia os objetos com uma familiaridade impossível lá fora. 

 Roda a saia quando é preciso, face às agruras que a picam no cinzento das horas em corrupio.  Mas em casa - seja ela onde, como e em quem for - gosta de a despir. É prazenteiro sentir o rosto da sua própria pele e envolver-se no seu aroma, e, enfim, encontrar-se novamente: panorâmica de um processo sempre inacabado.

Em desilusões de relações desejosas de  falhar, reenquadra a esperança num porvir autêntico.  E no lastro fresco deste sentimento, satisfaz todos os músculos do seu corpo, dilacerando-se em evasões de tensão. Esvazia a mente. Limpa o coração.

Da janela, observa o gotejar de mais uma noite. Mergulha em si e volta à tona para respirar. Afinal, amanhã é um novo dia.