Duas histórias assíncronas que se cruzam na luz ténue de fim
de dia.
Ela ajeita nervosamente a cabelo. Sabe de antemão o peso que as cores de outono
têm sobre si e não quer causar má impressão. Conhece também de sobejo o que
espera encontrar naquela estação: um verão vermelho em forma de romã.
Ele passa disperso na roda-viva do dia. Acha que tudo se compõe quando o frio
congelar a razão. Dança sozinho ao recordar-se dos tempos felizes que hão de
vir. No olhar cabe a imensidão do horizonte e no gesto leva uma ternura que se
revela na perfeição com que pousa a mochila na casa onde quer ficar.
Descobrem-se na livraria que cruza a esquina. Naquela onde os livros são vidas,
e as vidas não passam de histórias por contar. Ao longe, palavras novas
cruzam-se em continentes frios. Golfadas de vento aproximam-nos num espaço etéreo.
Tocam-se na frieza incólume de um icebergue e com uma destreza extemporânea
sabem que querem ficar ali.
terça-feira, dezembro 02, 2014
segunda-feira, novembro 10, 2014
Breakup songs
Encostada à soleira da porta, a sua decisão dependia do índice de pluviosidade.
Quando parou de chover, quis ficar em casa. O sol brilhava mais ali.
6. Scott Walker | If you go away
5.Porta dos fundos | Essa é pra você
4. The Beatles | You´re gonna lose that girl
3. Françoise Hardy | Comment te dire adieu?
2. The Magnetic Fields | All my little words
1. Jeff Buckley | Lover, you´ve should come over
Quando parou de chover, quis ficar em casa. O sol brilhava mais ali.
6. Scott Walker | If you go away
5.Porta dos fundos | Essa é pra você
4. The Beatles | You´re gonna lose that girl
3. Françoise Hardy | Comment te dire adieu?
2. The Magnetic Fields | All my little words
1. Jeff Buckley | Lover, you´ve should come over
quarta-feira, setembro 03, 2014
Férias 2014
segunda-feira, junho 30, 2014
terça-feira, maio 13, 2014
segunda-feira, maio 12, 2014
Esqueci-te
Haverá o dia em que não estarei mais presente. Esqueci-te. Não serás para mim mais que um fragmento da minha vida.
Um fragmento que não foste capaz de preservar, um fragmento que amarrotaste e atiraste para o lixo. E talvez nesse teu momento de fraqueza em que olhas e não vês, ouves mas não escutas entendas o que não quiseste amar.
Vais sentir saudades das palavras lindas, mas os meus lábios estarão selados, não pelo ódio, não pela raiva, mas pelos lábios daquela que virá a seguir a ti.
Um fragmento que não foste capaz de preservar, um fragmento que amarrotaste e atiraste para o lixo. E talvez nesse teu momento de fraqueza em que olhas e não vês, ouves mas não escutas entendas o que não quiseste amar.
Vais sentir saudades das palavras lindas, mas os meus lábios estarão selados, não pelo ódio, não pela raiva, mas pelos lábios daquela que virá a seguir a ti.
André Rebelo
quarta-feira, março 26, 2014
Entorpecimento
Calcorrear ruas em levamentos de calçada,
lamentos de um trajeto que já não o é.
Num pranto calado envolvo-o em memoriais
de exíguos vazios que mais não fazem que
toldar a razão, aqui e agora.
Palavras doces que embalsamo,
Para não nos esquecer.
Não me esquecer.
O chão destroça-se em pedaços de algodão
prontos a voar quando terminarem
as palavras brandas enfrascadas.
Moleza do ser não combina
com este caminho, nu de pavimento.
De terra batida, descalço, entregue a si próprio.
Cadinhos de imperfeição
quando o vocábulo se solta.
Quero ir com ele, com colarinhos das amarras que me prendem a ti.
[Ou o que ainda há por fazer.]
lamentos de um trajeto que já não o é.
Num pranto calado envolvo-o em memoriais
de exíguos vazios que mais não fazem que
toldar a razão, aqui e agora.
Palavras doces que embalsamo,
Para não nos esquecer.
Não me esquecer.
O chão destroça-se em pedaços de algodão
prontos a voar quando terminarem
as palavras brandas enfrascadas.
Moleza do ser não combina
com este caminho, nu de pavimento.
De terra batida, descalço, entregue a si próprio.
Cadinhos de imperfeição
quando o vocábulo se solta.
Quero ir com ele, com colarinhos das amarras que me prendem a ti.
[Ou o que ainda há por fazer.]
domingo, março 02, 2014
A Misantropia Tem Hora Marcada
Um suspiro de alívio, não demasiado fugaz, escapa-se assim que entra em casa. Tateia os objetos com uma familiaridade impossível lá fora.
Roda a saia quando é preciso, face às agruras que a picam no cinzento das horas em corrupio. Mas em casa - seja ela onde, como e em quem for - gosta de a despir. É prazenteiro sentir o rosto da sua própria pele e envolver-se no seu aroma, e, enfim, encontrar-se novamente: panorâmica de um processo sempre inacabado.
Em desilusões de relações desejosas de falhar, reenquadra a esperança num porvir autêntico. E no lastro fresco deste sentimento, satisfaz todos os músculos do seu corpo, dilacerando-se em evasões de tensão. Esvazia a mente. Limpa o coração.
Da janela, observa o gotejar de mais uma noite. Mergulha em si e volta à tona para respirar. Afinal, amanhã é um novo dia.
Roda a saia quando é preciso, face às agruras que a picam no cinzento das horas em corrupio. Mas em casa - seja ela onde, como e em quem for - gosta de a despir. É prazenteiro sentir o rosto da sua própria pele e envolver-se no seu aroma, e, enfim, encontrar-se novamente: panorâmica de um processo sempre inacabado.
Em desilusões de relações desejosas de falhar, reenquadra a esperança num porvir autêntico. E no lastro fresco deste sentimento, satisfaz todos os músculos do seu corpo, dilacerando-se em evasões de tensão. Esvazia a mente. Limpa o coração.
Da janela, observa o gotejar de mais uma noite. Mergulha em si e volta à tona para respirar. Afinal, amanhã é um novo dia.
segunda-feira, fevereiro 03, 2014
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