Hoje as malas pesavam pela Sá da Bandeira a baixo sempre 30min antes do autocarro para casa. Levanto a cabeça das pedras da calçada (desgastadas pelos saltos) e vejo uma cena que me libertou um sorriso, como um arrepio cor-de-rosa pelo corpo.
Eram 30segundos de dois namorados a discutir.
Gesticulavam habilmente no primeiro compasso da sua discussão de uma relação envernizada de fresco de um primeiro amor.
O relógio deu os 30segundos iniciais e a rapariga desiste e…
silêncio.
Olha para o rapaz, ainda a meio metro de distância a olhar para o chão e fixa o seu olhar nele. Ela olhava tristemente como quem pede alguma coisa em troca de ternura. O seu corpo era desengonçado mas os cabelos pediam a festa de uma mão que se perde nos seus caracóis presos e pretos.
Continua a olhar seriamente para o rapaz com borbulhas na face e este devolve-lhe, finalmente, o olhar penetrante, convencido pelos caracóis.
Ela aproxima-se e corajosamente...
beija-o com todos e sem nenhum medo.
Deram o seu passo para o conforto, para o alívio.
Continuei a andar e a olhar para trás embuida nesta cena de filme dos anos 50 com o James Dean e o beijo continuava sem prognósticos do seu final.
Ele tinha-a abraçado para se sentirem mais e colocava a mão, já segura, na sua face.
Continuei a andar só e despedi-me mentalmente daquele casal, que agora estavam sós e que nem o fumo dos autocarros, as buzinas dos carros ou, até mesmo, os olhares e os sussurros das velhas na paragem, ouviam ou sentiam.
Continuei a andar e lembrei-me de ti. E se tivesses agora comigo? Será que repararias na cena do filme? Será que preenchias a tua espinha dorsal com um sorriso não possível de ser contido, como eu? Eu acho que não… Acho que continuavas a andar e quando eu te falasse, dirias uma piada seca e intelectual. Eu responderia “Não sejas parvo!” como se cantasse o “Não venhas tarde!” e não nos teríamos encontrado naquele espaço intermédio do sorriso.
Fura_bOlos
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6 comentários:
Sabes no fundo todos esperamos que o amor seja reparar nas mesmas coisas, gostar das mesmas coisas, fazer as mesmas coisas...mas não, o amor nunca foi isso, nunca sera isso...porque isso é tornar a outra pessoa em nós mesmos!Lembrei-me duma musica cantada pelo rui veloso (meu primo :P) que diz "muito mais é o que nos une, que aquilo que nos separa"...isto sim, é o amor para mim!
gostei mm mt deste post!bjs
Atenta e expectante...reflexiva e profunda...sempre!Gostei deste post cheio de histórias e observações, indicações e indirectas, para mim, para ti, para ele...Reflexo de visões, compaixões e ainda mais...interligações...da minha vida, da tua, da ciganita..
Amor uma relação de extremos ou de complementaridade...à que pensar..para depois agir!Continua...nós agradecemos..Beijão da Pseudovizinha "do lado"
Estava com saudades destes posts :)
Sim, Já faltava mesmo! 5*
Continua, as histórias que crias com as tuas observações quotidianas são excelentes e já n lia nada tao brilhante desde "Coco Rosie - Casa das Artes - V.N. Famalicão" - Julho06 :)
... qto à "Memória Inventada" (do outro dia) passei por lá, já esperava grandes textos mas a qualidade da sua criatividade é fantástica.
[1Bjo e até qq dia]
Mais do que pensar"Será que ele seria assim, será que agiria assim, será que se sentiria assim...?", convém talvez perceber a razão pela qual estas dúvidas e incertezas nos passam pela mente e pelo corpo...O que há em mim que me faz sentir este desconforto...utilizando um termo com o qual fui "inundada" durante estes dias será um impasse relacional?Ou então é só mesmo o amor e a sua natureza que nos obriga por vezes a equilibrar na corda bamba, porque também só assim conseguimos fazer grandes acrobacias...
Jinho
Anelar
Ooh... :P
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