"E pronto, a ansiedade servia para os homens da pré-história fugirem dos dinossauros.."
Daqui a pouco até nos querem fazer querer que o sol anda à volta da terra; que os Ents nos atacarão daqui a dois anos; que o açucar é salgado e que o Castelo Branco anda a comer estrangeiras pelas praias do Algarve: Do you want some cream, baby darlim?
Fura_Bolos (a ignorancia é o caminho da luz)
quarta-feira, abril 26, 2006
domingo, abril 23, 2006
"Lose ourselfs to lose our minds"
O comboio atravessava veloz o interminável túnel da noite. Lembrava-se com precisão de quando o comboio apitara, fazendo o primeiro movimento para sair da estação aos solavancos. No cais, uma mancha luminosa polvilhada de ouro delineava a silhueta da mãe que, num lento adeus, tinha diminuído de tamanho à media que o comboio se afastara, até se tornar num ponto escuro e desaparecer.
Quando o comboio avançou pelo cheirete a produtos químicos do subúrbio da cidade, apercebeu-se de que etava sozinho naquele compartimento. Pensou: «Aqui estou eu...só, dentro e fora de mim, último passageiro da minha noite interior.» E reprimiu as lágrimas, apertanto a pequena mala de viagem contra o peito. Depois, mais calmo, encostou-se à janela e deixou o movimento do comboio sacudir-lhe o corpo. À sua volta crescia o silêncio, doloroso silêncio, semelhante ao que se estende por cima do mar cuja misteriosa mansidão nos acorda, obrigando-nos a descobrir, subitamente, que a solidão é muito maior do que julgávamos.
Como um gato que se enrosca para dormir, encolheu-se no assento, ajeitou a mala contra si. Não soube se permaneceu muito tempo naquela posição, olhando o que desfilava no enquadramento da janela, um pouco desfocado, em sentido contrário. Dormitou, ou talvez tenha pensado que dormitava.Talvez tenha cantarolado baixinho uma dessas canções tristes que os pescadores solitários fazem vibrar nos lábios, em surdina, para afastarem a morte e o medo no alto-mar.
O comboio percorreu dois dias e duas noites. Em que direcção? Pouco lhe importava. Num país atravessara o esplendor acetinado da primavera. Noutro chovia, e o frio gretara-lhe os lábios, emudecera-o. Comprara umas luvas de lã e entretivera-se a pô-las e tirá-las horas a fio. E assim cruzara cidades e campos sem dar por isso, enroscado junto à janela do compartimento, um um livro que não leu aberto sobre os joelhos, a cabeça encostada ao vidro, entorpecido. Deixara o tempo erguer em seu redor um espaço sem passado nem presente, nem futuro. Estava ali, esquecido de si mesmo, era tudo.
Sentira o corpo avançar à velocidade do comboio, sem saber ao certo para onde, mas avançara. De resto, como sempre, avançara pelo interior daquele limbo meio iluminado meio na treva, que era a exígua memória do que vida consentira dar-lhe, como um sobejo.
Al Berto
Fura Bolos (leiam a ouvir Holland do Suvjan Stevens: lugarzinho no ceu)
Quando o comboio avançou pelo cheirete a produtos químicos do subúrbio da cidade, apercebeu-se de que etava sozinho naquele compartimento. Pensou: «Aqui estou eu...só, dentro e fora de mim, último passageiro da minha noite interior.» E reprimiu as lágrimas, apertanto a pequena mala de viagem contra o peito. Depois, mais calmo, encostou-se à janela e deixou o movimento do comboio sacudir-lhe o corpo. À sua volta crescia o silêncio, doloroso silêncio, semelhante ao que se estende por cima do mar cuja misteriosa mansidão nos acorda, obrigando-nos a descobrir, subitamente, que a solidão é muito maior do que julgávamos.
Como um gato que se enrosca para dormir, encolheu-se no assento, ajeitou a mala contra si. Não soube se permaneceu muito tempo naquela posição, olhando o que desfilava no enquadramento da janela, um pouco desfocado, em sentido contrário. Dormitou, ou talvez tenha pensado que dormitava.Talvez tenha cantarolado baixinho uma dessas canções tristes que os pescadores solitários fazem vibrar nos lábios, em surdina, para afastarem a morte e o medo no alto-mar.
O comboio percorreu dois dias e duas noites. Em que direcção? Pouco lhe importava. Num país atravessara o esplendor acetinado da primavera. Noutro chovia, e o frio gretara-lhe os lábios, emudecera-o. Comprara umas luvas de lã e entretivera-se a pô-las e tirá-las horas a fio. E assim cruzara cidades e campos sem dar por isso, enroscado junto à janela do compartimento, um um livro que não leu aberto sobre os joelhos, a cabeça encostada ao vidro, entorpecido. Deixara o tempo erguer em seu redor um espaço sem passado nem presente, nem futuro. Estava ali, esquecido de si mesmo, era tudo.
Sentira o corpo avançar à velocidade do comboio, sem saber ao certo para onde, mas avançara. De resto, como sempre, avançara pelo interior daquele limbo meio iluminado meio na treva, que era a exígua memória do que vida consentira dar-lhe, como um sobejo.
Al Berto
Fura Bolos (leiam a ouvir Holland do Suvjan Stevens: lugarzinho no ceu)
Palavras soltas
No silêncio enevoado das nossas palavras vejo o teu espírito esvoaçar contra a maré...
O sussurar do murmúrio gritante das ondas estivais leva-me ate à minha ilha deserta onde sou naufraga de mim mesma...
Deixo crescer em mim o sentimento de imortalidade consciente..Desta vez não fumo um cigarro imaginário, e o fumo cega-me a visão do amanhã, mas ainda assim agora com a certeza de quem sou , de quem não fui, mas com a aplaudivel incerteza do que vou ser...
No futuro brilhante da minha ofuscada bola de cristal revelo-me na dúvida, descubro-me aqui nesta ilha perdida no meio de tudo, porque persiste o meu estado primitivo sem os artíficios que a sociedade nos impõe com o objectivo do encontro mítico da perfeição..
No efeito solitário do som das marés, do eco delirante do meu ser, sinto o confronto da multiciplicidade de formas que o dia de amanhã pode tomar..
Encontro a paz no sábio encontro da geografia dos meus recantos...Dos montes, vales, rios, planícies e bosques que existem nesta ilha ilusoriamente tão vazia de tudo...
Gostaria de escrever um romance, um thriller,ou até quem sabe um diário de bordo desta minha viagem,mas o que apenas consiguo proferir são estas palavras soltas, que se unem para me entrelaçar com os sonhos prometidos pela estrela mais cadente, para me confortar da brisa árida das rotas marítimas, e onde desabafo a alma...
A única perda que sinto ainda és tu, meu amor..Onde estás tu?Estarás tu numa outra ilha, onde traças os teus próprios mapas, ou já partiste rumo ao Universo?..Estamos tão abismalmente separados quando o físico se toca, os teus olhos não me falam como eu queria, o desejo esconde-se por detrás de alguma artimanha mais sensual, o meu coração gelou mesmo aí nas tuas mãos, e tu nem reparaste...as lágrimas trespassam-me como fantasmas enfeitiçados que procuram infernalmente o paraíso...Por agora deixa-me ficar aqui aninhada, enquanto me contas fábulas como um final de "felizes para sempre", mesmo que na verdade tal não seja mais que uma metáfora do contrário...
Anelar
O sussurar do murmúrio gritante das ondas estivais leva-me ate à minha ilha deserta onde sou naufraga de mim mesma...
Deixo crescer em mim o sentimento de imortalidade consciente..Desta vez não fumo um cigarro imaginário, e o fumo cega-me a visão do amanhã, mas ainda assim agora com a certeza de quem sou , de quem não fui, mas com a aplaudivel incerteza do que vou ser...
No futuro brilhante da minha ofuscada bola de cristal revelo-me na dúvida, descubro-me aqui nesta ilha perdida no meio de tudo, porque persiste o meu estado primitivo sem os artíficios que a sociedade nos impõe com o objectivo do encontro mítico da perfeição..
No efeito solitário do som das marés, do eco delirante do meu ser, sinto o confronto da multiciplicidade de formas que o dia de amanhã pode tomar..
Encontro a paz no sábio encontro da geografia dos meus recantos...Dos montes, vales, rios, planícies e bosques que existem nesta ilha ilusoriamente tão vazia de tudo...
Gostaria de escrever um romance, um thriller,ou até quem sabe um diário de bordo desta minha viagem,mas o que apenas consiguo proferir são estas palavras soltas, que se unem para me entrelaçar com os sonhos prometidos pela estrela mais cadente, para me confortar da brisa árida das rotas marítimas, e onde desabafo a alma...
A única perda que sinto ainda és tu, meu amor..Onde estás tu?Estarás tu numa outra ilha, onde traças os teus próprios mapas, ou já partiste rumo ao Universo?..Estamos tão abismalmente separados quando o físico se toca, os teus olhos não me falam como eu queria, o desejo esconde-se por detrás de alguma artimanha mais sensual, o meu coração gelou mesmo aí nas tuas mãos, e tu nem reparaste...as lágrimas trespassam-me como fantasmas enfeitiçados que procuram infernalmente o paraíso...Por agora deixa-me ficar aqui aninhada, enquanto me contas fábulas como um final de "felizes para sempre", mesmo que na verdade tal não seja mais que uma metáfora do contrário...
Anelar
sábado, abril 22, 2006
porquê...?
”Porque hoje fui incapaz de reconhecer a tua falta e não proferi qualquer palavra.” Walter Garcia
Porque sempre que algo que não controlamos, nos controla a nós como se o nosso pescoço fosse um sufoco de uma trela.
Porque quem agarra essa trela é alto e não fala a mesma língua que nós, porque é mudo.
Porque as nossas mãos não são garras que retiram de dentro das nossas entranhas esse roído tenebroso que nos entorpece.
Porque a morte é vermelha e não preta.
Talvez porque O Dono usa um chapéu de palha tão grande que transforma o mundo em sombrio.
Fura_Bolos (?)
Porque sempre que algo que não controlamos, nos controla a nós como se o nosso pescoço fosse um sufoco de uma trela.
Porque quem agarra essa trela é alto e não fala a mesma língua que nós, porque é mudo.
Porque as nossas mãos não são garras que retiram de dentro das nossas entranhas esse roído tenebroso que nos entorpece.
Porque a morte é vermelha e não preta.
Talvez porque O Dono usa um chapéu de palha tão grande que transforma o mundo em sombrio.
Fura_Bolos (?)
terça-feira, abril 11, 2006
Pseudo-Monólogos do coração
-Depois de tantos anos em que tento entender-te, depois de tudo o que fiz por ti, dos momentos intimos que partilhamos, do carinho com que te tratei, confiando em ti a guarda daqueles que mais amo, como podes tu fazer-me isto?
-Mas fazer o quê afinal? Não entendo...
-Mas como não....És um cobarde, recuso-me a falar mais contigo, mesmo que da tua existência dependa a minha. Não te vou ouvir mais, és um verdadeiro charlatão.
-Calma, vamos falar, como sempre fizemos até há bem pouco tempo...
-Que dizes?Incessamentemente falei ctg, mas tu não respondias!
-Claro que respondia, sempre respondi aos teus apelos, mas as minhas respostas nem sempre são as que querias sentir...E por isso vais negando o que sentes, e dizes que sou que eu que sou mudo....
-Talvez, mas diz-me que maneiras atrozes são essas que agora encontraste para me infernizar, ou como dizes para te expressares?
-Chorar, sentir solídão, desespero,angústia?São essas as minhas "maneiras atrozes"?Ahahahahahah....
-Vês magoas-me, e ainda te ris com esse ar sarcástico..Nem pareces que fazes parte de mim...
-Desculpa não me contive, depois de tantos anos nunca pensei que me conhecesses tão pouco...Será que pensaste que a vida seria sempre feita de rosas?Não te lembraste que todas as rosas têm espinhos?...
-Claro que sempre soube disso. Pelos vistos eu é que sou uma estranha para ti...
-Não és, não..E também sei que tu sempre soubeste muito bem que a vida não era nenhum conto de fadas..O que acontece é que sempre te escondeste por detrás dos teus medos, que foste construindo como barreiras protectoras, que te protegiam dos sentimentos não só os piores, como muitas vezes dos melhores...
-Isso não é verdade...
-É sim, não negues mais a tua natureza humana.Por mais que nos exigam que sejamos perfeitos, nunca te esqueças que a verdadeira beleza do que somos está precisamente nos nossos "defeitos"....
-Supondo que tudo isto é verdade, diz-me coração...Como é que as barreiras se quebraram depois de tanto tempo,onde foi que as fendas abriram....?
-O que acontece é que essas barreiras sufocaram-me quase até à morte, e fenda fui eu mesma que a abri....As tuas fantasias, os teus sonhos, a tua felicidade, a tua tristeza, a tua ansiedade tinham de sair....porque estavam prestes a dinamitar-me..
-Foi como se depois de muito tempo as comportas se abrissem..
-..e saísse tudo o que devia sair agora e há vários anos atrás...
-Sabes tenho medo desta fenda que abriste em mim, tenho medo que nunca sare...
-Do que tens verdadeiramente medo é de sentir, de te sentir, de sentir os outros, o que te rodeia...
-Não posso ter sido tão fria durante tanto tempo....
-Mas julgas que eras fria com quem?Tu,eras a única pessoa com quem eras fria, porque não me ouvias, não me respeitavas...Agora que a fenda finalmente abriu, deixa-te ir ao sabor das tuas emoções,ri,chora, grita....
-Mas mesmo assim achas que era preciso passar por tanto sofrimento para me dar conta de tudo isto?Continuo a achar que apesar de tudo tens sido bastante cruel comigo...
-Daqui a um tempo vais agradecer-me por tudo isto...
-Acho que já te partiste em pedaços só de ouvir aquilo que tu próprio disseste...
-Estes momentos servem para crescermos, para nos flexibilizar a alma,para termos a capacidade de sermos felizes, sim porque achas que todos são capazes de serem felizes?..A própria felicidade assusta por vezes acredita.
-Acho que vou ter de dialogar mais vezes contigo, para evitar estas tuas partidas..Até mais, sinto-te por ai num dia mais cinzento..
Anelar
-Mas fazer o quê afinal? Não entendo...
-Mas como não....És um cobarde, recuso-me a falar mais contigo, mesmo que da tua existência dependa a minha. Não te vou ouvir mais, és um verdadeiro charlatão.
-Calma, vamos falar, como sempre fizemos até há bem pouco tempo...
-Que dizes?Incessamentemente falei ctg, mas tu não respondias!
-Claro que respondia, sempre respondi aos teus apelos, mas as minhas respostas nem sempre são as que querias sentir...E por isso vais negando o que sentes, e dizes que sou que eu que sou mudo....
-Talvez, mas diz-me que maneiras atrozes são essas que agora encontraste para me infernizar, ou como dizes para te expressares?
-Chorar, sentir solídão, desespero,angústia?São essas as minhas "maneiras atrozes"?Ahahahahahah....
-Vês magoas-me, e ainda te ris com esse ar sarcástico..Nem pareces que fazes parte de mim...
-Desculpa não me contive, depois de tantos anos nunca pensei que me conhecesses tão pouco...Será que pensaste que a vida seria sempre feita de rosas?Não te lembraste que todas as rosas têm espinhos?...
-Claro que sempre soube disso. Pelos vistos eu é que sou uma estranha para ti...
-Não és, não..E também sei que tu sempre soubeste muito bem que a vida não era nenhum conto de fadas..O que acontece é que sempre te escondeste por detrás dos teus medos, que foste construindo como barreiras protectoras, que te protegiam dos sentimentos não só os piores, como muitas vezes dos melhores...
-Isso não é verdade...
-É sim, não negues mais a tua natureza humana.Por mais que nos exigam que sejamos perfeitos, nunca te esqueças que a verdadeira beleza do que somos está precisamente nos nossos "defeitos"....
-Supondo que tudo isto é verdade, diz-me coração...Como é que as barreiras se quebraram depois de tanto tempo,onde foi que as fendas abriram....?
-O que acontece é que essas barreiras sufocaram-me quase até à morte, e fenda fui eu mesma que a abri....As tuas fantasias, os teus sonhos, a tua felicidade, a tua tristeza, a tua ansiedade tinham de sair....porque estavam prestes a dinamitar-me..
-Foi como se depois de muito tempo as comportas se abrissem..
-..e saísse tudo o que devia sair agora e há vários anos atrás...
-Sabes tenho medo desta fenda que abriste em mim, tenho medo que nunca sare...
-Do que tens verdadeiramente medo é de sentir, de te sentir, de sentir os outros, o que te rodeia...
-Não posso ter sido tão fria durante tanto tempo....
-Mas julgas que eras fria com quem?Tu,eras a única pessoa com quem eras fria, porque não me ouvias, não me respeitavas...Agora que a fenda finalmente abriu, deixa-te ir ao sabor das tuas emoções,ri,chora, grita....
-Mas mesmo assim achas que era preciso passar por tanto sofrimento para me dar conta de tudo isto?Continuo a achar que apesar de tudo tens sido bastante cruel comigo...
-Daqui a um tempo vais agradecer-me por tudo isto...
-Acho que já te partiste em pedaços só de ouvir aquilo que tu próprio disseste...
-Estes momentos servem para crescermos, para nos flexibilizar a alma,para termos a capacidade de sermos felizes, sim porque achas que todos são capazes de serem felizes?..A própria felicidade assusta por vezes acredita.
-Acho que vou ter de dialogar mais vezes contigo, para evitar estas tuas partidas..Até mais, sinto-te por ai num dia mais cinzento..
Anelar
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