domingo, junho 26, 2005

(re)Trato de Familia

A Morte Melancólica do Rapaz Ostra

Nas dunas, pediu-lhe casamento,
À beira mar se casaram.
Na ilha de Capri celebraram
esse tão grande momento.
À ceia jantaram um prato sobejo:
uma bela caldeirada de peixe e marisco.
E, enquanto ele saboreava o petisco,
no seu coração ela pediu um desejo.
O seu desejo tornou-se realidade:
teve um bebé.

Mas seria um ser humano?
Pois é, na verdade,
tinha dez dedos nos pés e nas mãos,
tinha visão e circulação.
Podia ouvir, podia sentir, mas seria normal?
Isso não.

Este nascimento aberrante, este cancro, esta praga
foi o princípio e o fim de toda uma saga.
Ela zangou-se com o doutor:
"Esta criança não é minha.
Cheira a maresia, a salmoura e a tainha."
"Olhe que tem sorte, ainda a semana passada
tratei de uma miúda com crista e rabo de pescada.
Se o seu filho é meio ostra
não me venha acusar....
Já pensou por acaso
numa casinha à beira-mar?"
Sem saber que lhe chamar, chamaram-lhe Alves,
ou, às vezes, "aquela coisa da espécie dos bivalves."

Toda a gente se perguntava, mas ninguém sabia
quando é que da concha o Rapaz Ostra saía.
Quando os quatro gémeos Lopes um dia o foram ver,
chamaram-lhe uma amêijoa e desataram a correr.

Num dia azarado, Alves ficou encharcado
À esquina da rua Miramar.
Cabisbaixo,viu a chuva rodopiar
pela sarjeta abaixo.
Na auto-estrada, a sua mãe,
À beira de um esgotamento,
esmurrava o painel dos instrumentos
-não conseguia conter
a dor crescente, a frustração que a fazia sofrer.
"Olha, querido", disse ela,
"isto não é para ter piada, mas eu já não pesco nada
e acho que é do nosso filho.
Não gosto de o dizer,
pois sou a mulher que te ama,
mas tu culpas o nosso filho pelos teus problemas na cama."
Ele bem se esforçou, com todo o denodo;
tentou mezinhas e poções
e tintura de iodo que lhe fazia comichões.
Coçou-se e esmifrou-se e esfregou-se e sangrou.

Até que o médico diagnosticou:
"Eu não sei de ciência, mas a cura do seu problema
pode ser o que o causou.
Dizem que comer ostras aumenta a potência:
talvez se comer a criança fique cheio de pujança."
Ele foi pela calada, estava escuro como breu.
Tinha a testa suada e nos lábios
- uma mentira ensaiada: "Filho, és feliz?
Não me quero intrometer,
mas nunca sonhas com o Céu?
Nunca quiseste morrer?"

Alves pestanejou duas vezes
mas não ripostou.
O pai tacteou o punhal e a sua gravata aliviou.
Pegando no filho ao colo, Alves pingou-lhe a lapela.
Levando a concha aos lábios, despejou-o pela goela.
Depressa o enterraram na areia junto ao mar
- uma prece rezaram, uma lágrima derramaram
-e para casa voltaram à hora do jantar.

A campa do Rapaz Ostra foi marcada com uma cruz.
Palavras escritas na areia
prometiam a salvação de Jesus.
Mas a sua memória perdeu-se
numa onde de maré cheia.
De volta à paz do lar,
ele beijou-a a arfar: "Que tal uma rapidinha?"
"Mas desta vez", sussurrou ela,
"quero uma rapariguinha."

Original de: Tim Burton (De quem mais poderia ser?! Quem não se lembra de "Eduardo, mãos de tesoura" e " O estranho mundo de Jack"?! )
Tradução: Minha não foi... Polegar

4 comentários:

JoaquimGilVaz disse...

Curioso, hoje vi no magazine da 2 a apresentação da única obra escrita e ilustrada por Tim Burton, "A Morte Melancólica do Rapaz Ostra & outras histórias".

Todas as personagens de Burton, parecem ser saídas dos armários dos quartos de todas as crianças que têm medo do escuro. Porém o que eu acho interessante na forma como Burton retrata as suas personagens, está na forma como elas sofrem e na sua tristeza, ingenuidade e melancolia....é o lado de fora da sociedade os não-aceites...os anormais sentimentais.




O hediondo Rapaz Pinguim, Palitinho e Fosforinha, o Rapaz Robô, a Rapariga dos Olhos Fixos, o Rapaz com Pregos nos Olhos, o Rapaz Nódoa, a Rapariga que se Transformou numa Cama, Roy o Rapaz Pesticida, o Rapaz Múmia, o Bebé Âncora e o Rapaz Ostra são alguns dos heróis desajustados do encantador universo que Tim Burton nos oferece em "A Morte Melancólica do Rapaz Ostra e Outras Histórias".

Mãozinhas disse...

Bem...e como já vimos esses anormais sentimentais do Tim Burton fazem-me chorar...;)

Mindinha

Anónimo disse...

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