I walked outside
I could not cry
I don't know why
É assim a letra do tema “Recent Bedroom” do último e único álbum de Atlas Sound.
Este álbum, editado este ano, chama-se “Let the blind lead those who can see but cannot feel” sendo que este é, na minha opinião, um nome, nada fácil de pronunciar radiofonicamente mas que reflecte muito do álbum.
Ao ouvir o álbum com atenção podemos fechar os olhos, tentando encontrar refúgio nos sons chuvosos e silenciosos de Bradford James Cox. Estes sons, algo melancólicos, algo metálicos transportam-me para janelas de comboios regionais em dias de chuva. O reflexo do nosso nariz de perfil no vidro molhado, um pouco distorcido, parece-me combinar bem com o som do comboio que arranha os carris da viagem cega. Num misto de segurança e dor é assim que a musica de Atlas Sound dança desengonçadamente no estômago, chorando sem lágrimas, num grito mudo.
"Let the Blind Lead Those Who See But Cannot Feel" retrata uma fase da vida de Bradford Cox quando este foi internado num hospital durante todo um Verão da sua adolescência, devido a uma doença de ossos degenerativa. O isolamento das paredes brancas do hospital sente-se neste álbum, que compôs sozinho com poucos instrumentos e o seu laptop.
Com influencias como Robert Wyatt, Everly Brothers, Suicide, Laurie Anderson, The Breeders, Robin Guthrie, Casino Versus Japan, Stereolab, William Voight, Sparks, S.E. Rogie, Nuno Cannavaro, Piere Henry, Raymond Scott, Roy Orbison, este é um album a não perder.
Neste marasmo de ideias quase sem sentido destaco duas musicas: Recent Bedroom e River Card.