Afinal, o que é isto do sonho e do imaginário? Qual é a diferença entre o sonho e a realidade? O que é o sonho e o que é a realidade? O que é a vida? O que é o ser? O que somos nós? ...Quem és tu? A Catarina, o João? A Marina? És um nome?
Um dia destes de repente sem ninguém nos avisar somos lançados nesta rampa para um palco desconhecido e dizem-nos que isto é a vida e o que devemos é viver... contaminados pela cultura, pela época, pela política, pelo Mundo, vivemos uma alienação, somos humanos, temos limites e estamos presos em conceitos, em verdades absolutas. ...Afinal, pensamos nós: a vida até é confortável. A felicidade? Compramo-la nós todos os dias. Os dias são o caminhar para a (des)ilusão mas, fica, só mais um pouco, fiz um esforço para prolongar o sonho, a ilusão, a felicidade, só mais um pouco antes de...
Cai na (ir)realidade e no meio do escuro atravessam-se-lhe raios de luz, fragmentos de verdades? Olha bem à sua volta e tenta decifrar o que parece ver no meio do nevoeiro. Entretanto o pensamento apodera-se dela e o medo domina-a, quer saber o que é, mas não tem coragem. Em estado de desespero julga que só o Deus do sonho a poderá apaziguar... Ela não aguenta a pressão, julga-se doida, perdida, grita de dor, uma dor lasciva e profunda que urre das entranhas primordiais da terra... Mas, isso é medo, é insegurança, ela sente coisas que acha que não deve sentir, ela sente coisas que não sabe se são um sonho ou a realidade, ela usa palavras para determinar aquilo, aquilo que nunca vai descobrir, talvez nunca vá muito mais além do que o óbvio da sua própria sombra. Olha para a imagem por uns segundos e vê-se fundida nela, no fundo ela sabe que é aquilo que critica, a imagem de Siqueiros... As mãos em forma de conxa... É essa a nossa posição, somos passivos, esperamos sempre que alguém venha dizer-nos o que devemos fazer, como, afinal até queremos ser iguais a todos... Esquecemo-nos que por vezes temos que transgredir barreiras invisíveis, muros feitos de ar, tal como Prometeu que teve que transgredir regras para alcançar “o fogo” que era dos Deuses... Mas nós não, nós queremos verdades absolutas, queremos respostas concretas, talvez por isso o Mundo esteja como está e caminhe para a destruição do Homem. ...De repente, assim como a luz surgiu desapareceu para um dia mais tarde regressar.
Quando reparou o dia já tinha nascido, o furacão estava agora a milhas de distância, lentamente vai adormecendo na ilusão dos dias e tudo volta à normalidade do que era antes, as coisas têm o seu nome e estão nos seus devidos lugares... restam-lhe agora as memórias, a lembrança do que foi um dia, mas sem nunca esquecer de que “o importante não é o que é verdadeiro, mas aquilo que nos ajuda a viver...”
Talvez a vida seja só isto ou talvez seja nada...
Palma
quinta-feira, maio 31, 2007
segunda-feira, maio 28, 2007
A Memória Inventada...
Hoje à noite estava eu, como tantas outras noites, em frente ao computador a contorcer-me para não gritar de tédio quando o meu primo me diz para fazer uma vizita a um blog: memoria-inventada.weblog.com.pt
Quando abri o blog e vi o primeiro texto pensei: "que seca, um texto tão grande...não me apetece nada ler isto, vou é ver videos para o youtube..." Mas la lhe dei aquele voto de confiança e decidi ler o ultimo post, que vos trascrevo aqui... se tiverem curiosidade e não se deixarem levar pela "seca do tamanho do texto" leiam porque merece a pena...
Sandra
Infidelidade: uma abordagem prática (17)
Sandra lê com irreprimível gozo que na Malásia, ao abrigo da Sharia, um homem pode divorciar-se da mulher por SMS, desde que a mensagem seja clara. Comenta a notícia com a mãe, que se indigna com a reacção da filha e aproveita para lhe dar um sermão sobre a violação dos direitos das mulheres nos países de maioria islâmica. A resposta de Sandra sai torta - "Mas têm telemóvel, mãe..." - e ela pela porta fora.
Sandra crescera entre as novas tecnologias e via no SMS uma forma de comunicação com os seus códigos próprios. SMS enviado era SMS recebido e lido naquele preciso momento. Em todo o caso, a responsabilidade passava para o receptor. Nisso se distinguia da carta, do postal, do bilhete escrito e até da mensagem de correio electrónico. Nem extravio, nem tempos de espera. Uma certeza instantânea. O SMS atingia sempre o alvo, como aqueles mísseis com detectores de calor que perseguem os aviões. Por mais voltas que a pessoa desse, a mensagem chegaria ao seu bolso ou à mala e para Sandra era natural partir do princípio de que seria imediatamente lida, mesmo na ausência de resposta. Se esta percepção pode ser geradora de desnecessária ansiedade, para Sandra trazia vantagens óbvias.
Namorava um homem mais velho, divorciado, com muitas responsabilidades profissionais e que gostava de se deitar cedo. Como ela era noctívaga e esperta o suficiente para poder faltar de manhã às aulas sem que os seus liberais pais a maçassem, os seus horários eram pouco compatíveis. Sandra tinha ternura pelo seu homem, apreciava o conforto emocional e material, bem como o que ele lhe ensinava. Via na diferença de idades - e o que são duas décadas numa vida? - um atractivo. Ele amava-a perdidamente, por todas as razões que são do conhecimento geral. Pernoitavam amiúde, embora com irregularidade, e muitas vezes ela enfiava-se na cama sem o acordar.
Sandra apreciava a noite e era uma rapariga cortejada que lidava bem com a dinâmica passional da sua geração. Rara era a semana em que na escuridão de um bar ou numa pista de dança não se sentia tentada a ceder a um flirt. E raro era o mês em que não concretizava esse desejo. Ao contrário de algumas, tinha escrúpulos. Mas como gostava de viver, desenvolvera também um ritual. Nisso se distinguia de muitas outras.
Na cronologia fina do desejo, há um instante que antecede a fronteira em que se deixa de ter mão na realidade, uma última oportunidade em que a decisão ainda é possível. Sandra aprendera a reconhecer esse instante e a certificar-se de que onde quer que estivesse a rede não faltaria. O que fazia então era enviar um SMS ao seu namorado, sempre a mesma mensagem, em que pensara aturadamente: "é melhor estarmos afastados por uns tempos". Parecia-lhe a fórmula ideal, que interrompia o namoro sem fechar portas e que apesar de tudo demonstrava algum respeito pelo companheiro, por vir sem abreviaturas. Enviada a mensagem, entregava-se livremente aos prazeres que a esperavam. Tentava depois regressar a casa do namorado antes que amanhecesse. Abria a porta com cuidado, descalçava-se, entrava no quarto, procurava o telemóvel dele, certificava-se com alívio de que a mensagem não havia sido lida e apagava-a. Deitava-se depois, só que sem o abraço do costume e guardando algum lençol de distância.
Não é de supor que este ritual de Sandra, cujo ridículo que vem por definição era amplamente frisado pela prática, eliminasse nela todo o mal-estar, mas ajudava-a. Isso chegava. Ela comportava-se como um católico pecador a quem basta o conforto do confessionário. E assim se passaram anos. A sorte acabaria por abandoná-la numa noite de insónia do seu namorado. Ao chegar a casa, ele tinha os olhos inchados de tanto chorar, mas parecia já recomposto e envergando a armadura do orgulho. Percebendo tudo de imediato, cabisbaixa, a rapariga pediu que ele a aceitasse de volta. Foi quanto bastou para que a armadura caísse por terra sem que houvesse interrogatório. Só na cama ele lhe perguntou com alguma ansiedade: "estavas a brincar, não estavas?", ao que ela respondeu: "não, querido, mas hoje de manhã já tinha mudado de ideias. Foi uma precipitação minha". Havendo nesta frase duas verdades e uma mentira, não escandaliza concluir que o saldo na consciência de Sandra ainda era positivo. Com saldo positivo e anúncio nessa semana de cobertura de rede total para o país, o futuro dos dois parecia ainda mais promissor.
Fura_Bolos (conseguiram?)
Quando abri o blog e vi o primeiro texto pensei: "que seca, um texto tão grande...não me apetece nada ler isto, vou é ver videos para o youtube..." Mas la lhe dei aquele voto de confiança e decidi ler o ultimo post, que vos trascrevo aqui... se tiverem curiosidade e não se deixarem levar pela "seca do tamanho do texto" leiam porque merece a pena...
Sandra
Infidelidade: uma abordagem prática (17)
Sandra lê com irreprimível gozo que na Malásia, ao abrigo da Sharia, um homem pode divorciar-se da mulher por SMS, desde que a mensagem seja clara. Comenta a notícia com a mãe, que se indigna com a reacção da filha e aproveita para lhe dar um sermão sobre a violação dos direitos das mulheres nos países de maioria islâmica. A resposta de Sandra sai torta - "Mas têm telemóvel, mãe..." - e ela pela porta fora.
Sandra crescera entre as novas tecnologias e via no SMS uma forma de comunicação com os seus códigos próprios. SMS enviado era SMS recebido e lido naquele preciso momento. Em todo o caso, a responsabilidade passava para o receptor. Nisso se distinguia da carta, do postal, do bilhete escrito e até da mensagem de correio electrónico. Nem extravio, nem tempos de espera. Uma certeza instantânea. O SMS atingia sempre o alvo, como aqueles mísseis com detectores de calor que perseguem os aviões. Por mais voltas que a pessoa desse, a mensagem chegaria ao seu bolso ou à mala e para Sandra era natural partir do princípio de que seria imediatamente lida, mesmo na ausência de resposta. Se esta percepção pode ser geradora de desnecessária ansiedade, para Sandra trazia vantagens óbvias.
Namorava um homem mais velho, divorciado, com muitas responsabilidades profissionais e que gostava de se deitar cedo. Como ela era noctívaga e esperta o suficiente para poder faltar de manhã às aulas sem que os seus liberais pais a maçassem, os seus horários eram pouco compatíveis. Sandra tinha ternura pelo seu homem, apreciava o conforto emocional e material, bem como o que ele lhe ensinava. Via na diferença de idades - e o que são duas décadas numa vida? - um atractivo. Ele amava-a perdidamente, por todas as razões que são do conhecimento geral. Pernoitavam amiúde, embora com irregularidade, e muitas vezes ela enfiava-se na cama sem o acordar.
Sandra apreciava a noite e era uma rapariga cortejada que lidava bem com a dinâmica passional da sua geração. Rara era a semana em que na escuridão de um bar ou numa pista de dança não se sentia tentada a ceder a um flirt. E raro era o mês em que não concretizava esse desejo. Ao contrário de algumas, tinha escrúpulos. Mas como gostava de viver, desenvolvera também um ritual. Nisso se distinguia de muitas outras.
Na cronologia fina do desejo, há um instante que antecede a fronteira em que se deixa de ter mão na realidade, uma última oportunidade em que a decisão ainda é possível. Sandra aprendera a reconhecer esse instante e a certificar-se de que onde quer que estivesse a rede não faltaria. O que fazia então era enviar um SMS ao seu namorado, sempre a mesma mensagem, em que pensara aturadamente: "é melhor estarmos afastados por uns tempos". Parecia-lhe a fórmula ideal, que interrompia o namoro sem fechar portas e que apesar de tudo demonstrava algum respeito pelo companheiro, por vir sem abreviaturas. Enviada a mensagem, entregava-se livremente aos prazeres que a esperavam. Tentava depois regressar a casa do namorado antes que amanhecesse. Abria a porta com cuidado, descalçava-se, entrava no quarto, procurava o telemóvel dele, certificava-se com alívio de que a mensagem não havia sido lida e apagava-a. Deitava-se depois, só que sem o abraço do costume e guardando algum lençol de distância.
Não é de supor que este ritual de Sandra, cujo ridículo que vem por definição era amplamente frisado pela prática, eliminasse nela todo o mal-estar, mas ajudava-a. Isso chegava. Ela comportava-se como um católico pecador a quem basta o conforto do confessionário. E assim se passaram anos. A sorte acabaria por abandoná-la numa noite de insónia do seu namorado. Ao chegar a casa, ele tinha os olhos inchados de tanto chorar, mas parecia já recomposto e envergando a armadura do orgulho. Percebendo tudo de imediato, cabisbaixa, a rapariga pediu que ele a aceitasse de volta. Foi quanto bastou para que a armadura caísse por terra sem que houvesse interrogatório. Só na cama ele lhe perguntou com alguma ansiedade: "estavas a brincar, não estavas?", ao que ela respondeu: "não, querido, mas hoje de manhã já tinha mudado de ideias. Foi uma precipitação minha". Havendo nesta frase duas verdades e uma mentira, não escandaliza concluir que o saldo na consciência de Sandra ainda era positivo. Com saldo positivo e anúncio nessa semana de cobertura de rede total para o país, o futuro dos dois parecia ainda mais promissor.
Fura_Bolos (conseguiram?)
sexta-feira, maio 25, 2007
Simplesmente a ti...
Hoje senti-te...assim como em todos os dias em pressinto a insaciabilidade que nos legaste...Hoje senti-te, nesse teu olhar aveludado que nos diz que os confins de eternidade são reais..A tua voz tocou a minha, na ressonância colorida emanada desse teu sorriso..Queria-te aqui agora, comigo ao meu lado, para mais uma vez revelar o conteúdo da minha caixa de Pandora...sim é que desde que partiste ela ficou mais difícil de abrir sabias? Poucos são aqueles que possuem as palavras mágicas que entreabrem este meu pequeno mundo, e tu eras um deles... com esse teu código de acesso tão bonito de amizade e compreensão..Enquanto sigo nesta corrente que nos conduz sabe-se lá até onde, vou levar-te comigo transformada em símbolos de amor e carinho até uma dessas margens, de onde possa avistar o pôr do sol..
Anelar
Anelar
quarta-feira, maio 16, 2007
Retrato de uma princesa desconhecida
Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino
Sophia de Mello Breyner Andresen
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino
Sophia de Mello Breyner Andresen
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