quarta-feira, março 31, 2010

Uma primavera no Algarve (?!)



(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

Álvaro de Campos

sexta-feira, março 26, 2010

sexta-feira, março 19, 2010

Aspirador de Pessoa



Todos os dias ela aspirava o quarto.
O aspirador, de velho e de "saco cheio", tossia com um barulho que cheirava a sardinhas.
No final, acendia um incenso para disfarçar aquele cheiro a "peixe-guerreiro vencedor".

Ela acreditava que "certas coisas simplesmente foram feitas para cheiram mal".

Not lying around

LOVE will tear us apart again...

terça-feira, março 16, 2010

#1 A espuma dos livros

"...ela tinha a mão na minha e os cabelos perto dos meus, o perfume no travesseiro.
Fico sempre com o travesseiro dela, havemos de continuar a lutar, à noite, ela acha o meu demasiado cheio, fica demasiado enfolado debaixo da cabeça, e depois eu pego nele e cheira ao perfume dos seus cabelos."

[A Espuma dos Dias - Boris Vian]

segunda-feira, março 15, 2010

#9 Lying around...

Minha mãe me deu ao mundo
De maneira singular
Me dizendo a sentença
Pra eu sempre pedir licença
Mas nunca deixar de entrar


*Tudo de Novo, Caetano Veloso

terça-feira, março 09, 2010

sábado, março 06, 2010

A Casa

Trovejavam veios luminosos lá fora, entre os estilhaços de vidro que protegiam a habitação do mau tempo…As gotas farejavam as frechas por onde se infiltrariam, para num colapso só, alagarem os alicerces simentados por tempos anedónicos. As telhas teclavam os dentes, numa sinfonia atónica, sem eira nem beiral por onde arrastar a água pendente da chuva.

Os móveis dançavam ao som de um boogie-woogie desconcertado, conduzido pelo ritmo ciclónico, que se confinavam à exiguidade do universo, preso ali mesmo no jardim maltratado.

Enquanto as cortinas se bamboleavam nos reflexos cinza da chuva que passava, rangiam as portas em cópulas apressadas pelo frio que vinha do final do corredor, onde a janela permanecia aberta..aberta..

Na cozinha, a mesa tinha restos de víveres ensopados pelas sombras cinzas emanadas pelas nuvens cabisbaixas, que tentavam entrar pelos vidros opacos. As facas ganhavam vida própria e cortavam estes pedaços de céu, para um banquete tardio que se havia de fazer, sempre que pingassem rios nilos nos confins daquele lar.

Subindo as escadas, encontravam-se os quartos com camas de odores a terra molhada, a amores devassos que se propagavam na enxurrada que os havia de levar até à cómoda, onde poderiam pentear os seus cabelos de cobre reluzente..

Finalmente, no sótão, reduto final da intempérie constante, podiam avistar-se os raios quentes de um sol que despontava a partir de quimeras isoladas, e que desatava todos os sonhos escritos naquelas sombras vagabundas…as sombras de uma casa.

sexta-feira, março 05, 2010

#8 Lying Around



"This was unlike the story

It was written to be
I was riding its back
When it used to ride me"

*Peach Plum Pear, Joanna Newsom